Devaneios e Loucuras

Simples verdades mentirosas e ilusões verdadeiras!

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Intensidade e espontaneidade, assim a poesia acontece.

terça-feira, dezembro 25, 2018

O luscofusco de um país: Dia 25 de Dezembro, o dia do Natal

A cada dia que passa, quando o novo governo eleito se aproxima de tomar a sua posse, já dando as cartadas de muito do que ocorre, dando tiro nos pés e fazendo coisas piores do que algumas das mais otimistas previsões disseram, vemos que a derrocada já passou e já nos encontramos numa espécie de inferno social, só que ainda não nos demos conta.
É interessante notar uma parte dos eleitores do dito presidente esbravejador: ainda existe uma esperança democrática neles. Sem entender muito bem - pois é difícil entender mesmo - a irracionalidade do processo que foi deflagrado contra nosso país, soltam o jargão do “vamos torcer para que dê certo”, “vamos torcer para que as coisas melhorem”, “vamos ter esperança”. Fiz questão de enfatizar essa última palavra, pois as pessoas esperam por algo que não entendem, não conhecem e estão apreensivas.
No meio de escândalos de caixa 2 virtual e não virtual, de censura, de sumiço de provas, de declarações ditas, desditas e ditas novamente, de uma justiça partidarizada, o que se vê nesse período de festas é todo mundo, na verdade, segurando o toba: não existe tanta alegria nas ruas, as lojas não investiram na decoração natalina, não se falou do quanto os lojistas esperavam por esse período, não se falou que o povo ainda vive na esperança democrática de que as coisas podem melhorar, que serão diferentes, e o que se vê é as pessoas sem muito clima pra festejar, mas fez-se questão de fazer com que tudo parecesse normal.
O que não se fala e essas pessoas também não dizem é: melhorar pra quem? Claro que não vão falar, isso está entranhado no processo do que é a política e a própria justiça, perpassados pela economia. Nesse sentido o direito vai dizer pra nós quem vai consumir, pra quem será o consumo, quem irá produzir, pra quem será a produção e, aquilo que é mais escondido por essa lavagem cerebral que foi feita pelo processo ideológico: a vida vai melhorar, mas, pra quem? E: o ideal de justiça dado pela sociedade das classes sociais é mesmo justo?
Do lado dos jovens, que mais sofrem com esse processo, a apreensão é facilmente verificável: tal processo de lavagem foi tão ardilosamente construído que basta falar em PT, Lula e esquerda que uma avalanche de todos os tipos de preconceito e ódio é automaticamente desencadeada. Isso pode passar um tanto quanto despercebido, mas é algo muito sério: é o desencadear de um ódio, uma lógica do ódio, ou seja, fascista. Um exemplo significativo disso surgiu quando usuários de uma rede social propuseram trocar a cor do do papai noel por outra que não fosse o vermelho, que os remetia àquele ódio de maneira automática, e isso de fato aconteceu em diversos cantos e festas de firma pelo brasilzão. O jovem vê tudo isso e, muitas vezes “vai no flow”, e não sabe o que está defendendo. Existe algo hilário disso ai: sua família, que conseguiu ter acesso a muitos bens (e não tô falando daquele jargão um tanto quanto besta do ser x ter - vivemos em uma realidade material e o ter é preciso sim, a terra simplesmente do ser é aquela que está lá em cima, junto de uma possível essência, claro, dos cidadãos que se acham de bem), agora verem o circo se fechando e percebendo que tais oportunidades talvez não existam para sua prole.
A ideologia do hiperindivíduo, essa própria do neoliberalismo, confundiu as mentes das pessoas: se fala do empresário e o indivíduo trabalhador pensa e entende que se está falando com ele, empreendedor que é. Loucos para trocarem de lugar e ao invés de oprimidos tornarem-se opressores, ou apenas melhorar de vida, ou apenas porque nos países periféricos do capital esse é o modo que encontram para viverem com alguma dignidade, não compreenderam que esse “empresário” a qual se fala aos quatro ventos é o grande, o imenso, aquele que já domina o processo político e econômico de tomada de decisões. E isso será sentido na carne: a ideia de acabar com o simples nacional, por exemplo, fará um efeito em cascada para milhares de pessoas, que se sentem empresários e acham que esse discurso é para eles.
Torcer pra quê se tudo o que se avista no horizonte é o sétimo círculo do inferno de Dante: congelamento de investimentos sociais, privatizações a torto e direito, fim das garantias e direitos trabalhistas, aumento do custo de vida, detonação do meio ambiente por meio da venda do aquífero guarani e doação de terras (inclusive indígenas e quilombolas) para ruralistas, aumento da pobreza e desigualdade social, etc.?
Outra questão interessante é notar que essa é, talvez, de todas as datas sociais mais aguardadas e celebradas, a data da hipocrisia: o tal espírito natalino da solidariedade é pós-moderno, só existe no discurso e está longe da prática de muitas pessoas, sobretudo daqueles eleitores do novo governo, que sustentaram o jargão nazista do “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”. É totalmente contrário daquele quem faz aniversário e eu não sou uma pessoa religiosa.
Que tipo de solidariedade é essa que coloca Jesus do outro lado da arma? Que quando se fala de justiça social é inflar o Estado e fazê-lo paternalista? Que lógica é essa que o aniversário de um líder religioso que partilhou, aceitou todas as diferenças, que pregou o amor, faz as pessoas se colocarem do outro lado e falar que tudo isso é coisa de petralha, esquerdista, e que o melhor caminho é o bandido bom é o bandido morto, que partilhar nada, precisa-se de esforço e mérito, que a pessoa é pobre porque quer, que esse papo de igualdade social está longe daquela que seria a sociedade do cidadão de bem, que votam em alguém que abertamente exalta a tortura quando num processo escuso (foi golpe sim!) homenageia um torturador, que vê lógica em torturar aqueles que foram julgados pela lei e não os quer ver reconduzidos à sociedade esquecendo-se do entorno social em que foram forjados para assim o serem? Poderia descrever aqui vários outros exemplos que me fazem concluir que o que impera nesse momento em nosso país é a hipocrisia, grande comparsa do fascismo.  
Realmente parece que só há uma saída: torcer para que quando chegarmos mais abaixo da onde é o fundo do poço consigamos transformar nossa luta em uma mudança social real.

25/12/2018